O nosso Capitão


Homenagem a um homem justo, (Comandante da nossa Companhia) e que jámais deixará de estar nos nossos corações.


Octavio Emanuel Barbosa Henriques 
, Oficial Superior do Exercito Português, nascido a 11/3/1938 em S. Filipe, Fogo, falecido a 17/2/2007, em Lisboa, Filho de António Adolfo Avelino Henriques, e da sua mulher Carlota Gomes Barbosa, casou com Alice Teixeira, Enfermeira, natural de Portugal, SG.
Foi o primeiro instrutor da 1ª Companhia de Comandos Africanos (CCA), 6 de Fevereiro de 1970. Como Comando-Instrutor, o "Capitão Barbosa Henriques era duro, severo, espartano, quase um centurião". Foi Supervisor , em 1970, da 1ª Companhia de Comandos Africanos, Último comandante do BART 2917 (Bambadinca), 2º Comandante do CI, Juiz Militar.

 

"Para além de um notável operacional na Guerra do Ultramar, Barbosa Henriques era um português de Lei. Um patriota, sempre inconformado com a ineficácia ou inoperacionalidade das instituições de um país que amava profundamente.


UM ADEUS MILITAR - OCTÁVIO BARBOSA HENRIQUES. CORONEL DE ARTILHARIA E DOS COMANDOS. "Por João J. Brandão Ferreira*

Fui, há dias, acompanhar um camarada mais antigo à sua última morada.

Foi um homem bom, um excelente combatente e um Português de Lei. Recto carácter, defendia com denodo as suas convicções e não virava a cara.

Serviu a Pátria, não se serviu.

Chamava-se Octávio Barbosa Henriques. Era Coronel de Artilharia e Comando.

Como é regulamentar nestas ocasiões, e tradição antiga, a condição de militar implica que o Ramo a que o militar pertenceu se faça representar e preste as Honras Militares respectivas, o que varia conforme o posto, funções exercidas e condecorações havidas (quem for condecorado, por exemplo, com a Ordem da Torre e Espada, mesmo sendo civil, tem direito a honras especiais). Estas “Honras” tem lugar tanto em tempo de paz, como em campanha, sempre que as operações militares o permitam.

Estando o militar no activo a representação e o número de fardados estará, naturalmente, em consonância com tal condição. O corpo é velado por pessoal fardado e armado e, em certos casos, há guarda de honra ao altar, durante a celebração.

Existem ainda particularidades conforme os militares pertençam a um ou outro Ramo/especialidade. Por exemplo, é costume haver sobrevoo de aeronaves da esquadra a que o militar pertenceu, quando se trata de um aviador; e no mar a Armada tem o seu cerimonial próprio, quando o sepulcro é o vasto oceano.

Durante a última revisão do Regulamento de Continências e Honras Militares, foram reduzidos os escalões das subunidades a prestar honras (logo menos homens e aparato), alegando-se os cada vez menos efectivos disponíveis (e daí para cá já se diminuiu muito mais...).

Deste modo e para o caso presente (trata-se de um oficial superior), restou um pelotão a duas secções: 18 homens comandados por um sargento.

Lá estavam em “funeral arma” e deram as três salvas da ordenança.

No cortejo, a urna vai coberta com a bandeira nacional (que o defunto jurou defender com sacrifício do seu bem estar, saúde e vida), e atrás segue um oficial/sargento/praça (conforme os casos), com as condecorações, boina ou boné e insígnias, e espada/espadim (símbolo da autoridade nele investida).

A urna, sempre que possível, é transportada por elementos da unidade a que pertenceu aquele “que jaz morto e arrefece”, e/ou, por elementos do seu curso ou camaradas de armas.

Muito importante – até porque se trata sempre de uma situação muito sensível, é o profissionalismo e organização como tudo se passa e a marcialidade de quem presta as honras militares ou está envolvido na cerimónia – Não deve haver falhas.

As “honras” que se prestam são uma homenagem a quem partiu por ter servido as Forças Armadas e Portugal – a nossa terra! –, segundo os ditames da condição militar e de tudo o que isso implica. Mas são, sobretudo, importantes para os que ficam, pois são símbolo da continuidade, referência de comportamentos, elo de ligação intemporal. E porque, independentemente do entendimento ou crença de cada um, ajudam a dar sentido à vida.

Numa época desatinada de referências morais, cívicas e patrióticas é fundamental, ao que resta das multicentenárias FAs Portuguesas, manter uma postura impecável, não abdicando dos seus direitos e tradições e não permitir uma beliscadura na sua Dignidade.

É possível, até, que os espíritos desorientados que há muito andam a trabalhar para ferirem de morte a Instituição Militar, venham a ter êxito. Mas como não se tem sabido fazer frente a tal desiderato, ao menos que nos mantenhamos iguais a nós próprios, até ao último.

Lema artilheiro de muitas épocas proclama que a “Artilharia morre em sentido”!

O Cor. Barbosa Henriques, na reforma há algum tempo, não se esqueceu do lema: morreu de pé

Para além de um notável operacional na Guerra do Ultramar, Barbosa Henriques era um português de Lei. Um patriota, sempre inconformado com a ineficácia ou inoperacionalidade das instituições de um país que amava profundamente.

 


Guiné 69/71 - CIII: Comandos africanos: do Pilão a Conacri (Luís Graça)


Versão, modificada, de um texto publicado no O Jornal, em 16 de Abril de 1981 (A tropa-macaca e a elite da tropa), no dossiê Memória da guerra colonial.

"Foi então que tive a oportunidade de conhecer o instrutor da 1ª CCA, o capitão-comando Barbosa Henriques. É a ele, muito provavelmente, que se refere o Carlos França, ao evocar a figura do capitão pretoriano, arrancado às páginas de clássicos romances de guerra como os de Jean Lartéguy. Julgo que ele já tinha feito uma comissão na Guiné, à frente de umas das companhia de comandos então existentes.

No meio da bandalheira geral que já era então o nosso exército, corroído pelo mal dos milicianos e o cansaço dos oficiais e sargentos do quadro, o capitão-comando Barbosa Henriques era, para mim, a personificação do profissionalismo militar, cada vez mais raro naquelas paragens: um tipo espartano, frio, calculista, distante, seco de palavras mas formalmente correcto… Imaginava-o programado até ao mais ínfimo dos gestos, saído da linha de montagem de fábricas de militares como as de West Point!

A ele se atribuía, justa ou injustamente, a afirmação tão sintomática quanto estereotipada de que uma “instrução de comandos sem uma boa meia-dúzia de mortos não era instrução de comandos nem era nada".

E no entanto por detrás daquela máscara impassível de duro e daquele comportamento quase robotizado que me causava simultaneamente atracção e repulsa, havia um homem de carne e osso, tímido e sentimental, tão só como nós, capaz de deixar trair as suas emoções,e de falar de outras coisas bem mais comezinhas e menos metafísicas do que a arte da guerra"

O Coronel Comando Barbosa Henriques - O Bomba H - partiu deste mundo, triste pela situação a que isto chegou! Um grande homem que para lá das campanhas africanas, do Regimento de Comandos, prestou um enorme serviço ao País na PSP! No CI era conhecido como o Zé da Bóina porque usava a bóina encarnada dos Comandos! Por isso o marchar diferente do CI, semelhante ao dos Comandos.